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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O Relógio

O colégio onde eu estudava quando garoto, costumava encerrar o ano letivo com um espetáculo teatral. Eu adorava aquilo, porém nunca fora convidado para participar, o que me trazia uma secreta mágoa. Quando fiz onze anos avisaram-me que, finalmente iria ter um papel para representar. Fiquei felicíssimo, mas esse estado de espírito durou pouco. Escolheram um colega meu para o desempenho principal. A mim coube uma ponta de pouca importância. Minha decepção foi imensa. Voltei para casa em prantos. Mamãe quis saber o que se passava e ouviu toda a minha história entre lágrimas e soluços. Sem nada dizer ela foi buscar o bonito relógio de bolso de papai e colocou-o em minhas mãos, dizendo:
- Que é isso que você está vendo?
- Um relógio de ouro com mostrador e ponteiros.
Em seguida mamãe abriu a parte traseira do relógio e repetiu a pergunta:
- O que você está vendo?
- Ora mamãe, aí dentro parece haver centenas de rodinhas e parafusos.
Mamãe me surpreendia, pois aquilo nada tinha a ver com o motivo do meu aborrecimento. entretanto, calmamente ela prosseguiu:
- Este relógio tão necessário ao seu pai e tão bonito seria absolutamente inútil se nele faltasse qualquer parte, mesmo a mais insignificante das rodinhas ou o menor dos parafusos.
Nós nos entrefitamos e no seu olhar calmo e amoroso, eu compreendi sem que ela precisasse dizer mais nada. Essa pequana lição tem me ajudado muito a ser mais feliz na vida, aprendi com a máquina daquele relógio quão essenciais são mesmo os deveres mais ingratos e difíceis, que nos cabem a todos. Não importa que sejamos o mais ínfimo parafuso ou a mais ignorada rodinha, desde que o trabalho, em conjunto, seja para o bem de todos. E percebi também que se o esforço tiver êxito o que menos importa são os aplausos exteriores. O que vale mesmo é a paz de espítito do dever cumprido.

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